quinta-feira, 26 de março de 2009

Acordo cedo sem querer

"Bom dia" - digo ao espelho do banheiro iluminado pela fraca luz das 6 da manhã. Não ouço resposta.

Escovo meus dentes com a cabeça baixa em direção da pia. Tomo meu banho, demorado, sempre banhos pensativos. Deixei de cantar no chuveiro a uns 10 anos, mais ou menos na mesma época que deixou de valer a pena cantar no chuveiro todos os dias.

Enxugo-me em meio a suspiros que parecem refletir meus pensamentos. Perfumo-me, inutilmente, mas o faço mesmo assim. Escolho uma roupa, todas que tenho são discretas, deviam ser chamativas dada a solidão aparente.

Vou ao ponto de ônibus. Silêncio entre os futuros passageiros. Peço parada, digo "Bom dia" a(o )cobrador(a). As vezes ouço uma resposta, as vezes uns grunhidos, fazer o que. Se tiver a opção de sentar, prefiro aquelas cadeiras solitárias... você também? Pois é.

Chego ao meu destino, sento em frente a um computador, faço o que tenho que fazer. Falo "bom dia" para mais algumas pessoas, que normalmente respondem por educação ou grunhem, pego um ônibus para voltar para casa, sento no computador de casa, escolho a hora de dormir, e acordo, para dizer "bom dia" ao espelho.

Nota: qualquer similaridade com indivíduos reais é mera causalidade.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Diariozinho de viagem ( ou "Minhas férias" - igualzinho no colégio )

Já faz um tempão que estou em Campo Grande, tanto tempo que já tenho até pensado em Curitiba, em algumas pessoas por lá.

Já não me preocupo com um monte de coisas que estavam me atormentando quando cheguei e me sinto mais forte, mais capaz de fazer um monte de coisas.

O certo mesmo é isso: Eu sou um fudido, to ficando velho, já demorei um monte pra me formar, só ando de carona e normalmente não tenho um puto no bolso, mas quer saber?
Que se foda! Agente só vive uma vez e agora ta na hora de acelerar, de continuar a mil por hora e curtir esse vento na cara que dá quando agente ta caindo, um pouco antes de se fuder, ou de voar.

--KJ

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Realidade.

Após horas de conversas e explicações Carlos olhou nos olhos de seu amigo indignado, não com seu amigo, mas com ele mesmo. Carlos estava com raiva, enfurecido, se sentido roubado. Na verdade fora roubado, na verdade, sofreu de estelionato, lhe extirparam o coração ainda pulsante, o viu pulsar nas mãos da diva meliante até o momento do último pulso de seu órgão que mais trabalhou desde que nasceu.

A raiva, entretanto, não residia no fato do roubo, mas do estelionato. O coração ele daria, deu na verdade, mas não para ser esmagado como foi. Infelizmente, olhando para seu amigo, que não precisou dizer se quer uma palavra, ele sabia que não foi esmagado, ele sabia que o culpado era ele, não, o culpado foi sua expectativa, sua imaginação, idealização.

Carlos estava perdido em meio à raiva de ter perdido seu coração, de ter se tornado um ser incompleto, pior, estava com raiva de não conseguir viver sem seu coração, ou pelo menos, tê-lo novamente em seu peito, mesmo que não pulsante por tempo indeterminado.

O silêncio entre os amigos já durava alguns minutos, Carlos vivia a angustiante realidade de ter todas as perguntas certas para se chegar à solução, o problema, O problema, é que ele sabia todas as resposta, ingrata realidade. Carlos estava desejando ser ignorante, perguntar e aprender, mas saber de tudo, de todas as respostas é muito cruel. Saber que seu amigo esta ali somente para ele sentir que pode fazer uma pergunta é seu consolo, doloroso consolo quando não se precisa perguntar.

Carlos, resignado, sem coração, cheio de raiva, detentor de todas as respostas, confuso e impotente frente à situação, conseguiu se sentir ainda pior no momento em que olhou para seu amigo e se sentiu desprotegido, saber que seu amigo não lhe pode dar as respostas que já sabe, foi a gota d’água. Carlos abaixou a cabeça, pensativo como de costume, e sabia a resposta para esta pergunta também, triste realidade. Boa noite meu amigo, obrigado pela companhia. O amigo, triste, sabia, nada mudara.

domingo, 19 de outubro de 2008

Desejar

Desejo teu sangue, quente.
Que as horas não me perturbem mais quando ele estiver frio em minhas mãos.
Desejo ouvi-la gritar, enfurecida.
Teu sangue pode não ser suficiente, já desejo sua alma com janelas e cortinas Lâncome.
Eu posso ver através da tua armadura minha Joana e te desejo.


P.S.: Os adivinhos romanos usavam “considerare” para o ato de decifrar o futuro por meio das estrelas. Desiderare era o verbo para as pessoas que, desalentadas por sucessivas previsões frustradas, não se amparavam nem mais na leitura das estrelas, desistiam de especular sobre o futuro. Desiderare é “desistir das estrelas”.

--KJ

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

República

- Rubia?
- Sim.
- Nada não ele diz, talvez esteja apaixonado por você ele pensa, queria te dizer isso, mas não rola.
- Eu estou indo no supermercado com a Malu, você quer que eu traga algo? Ela responde olhando um pouco para o lado e evitando os olhos dele. Normalmente ela não faz isso ao falar com as pessoas, mas ele sempre a olha como se não visse ela há anos e eles se vêem praticamente todo dia, ela sentia um desconforto e quase sempre ou segurava a mão da Malu ou a beijava ou fazia algum comentário esdrúxulo sobre alguma gostosa, porque quando agente fala assim elas não são pessoas, não são mulheres, são só umas gostosas, deve ser bem ruim ser uma gostosa se você não é burra e superficial ela pensa. Rúbia sempre se perde em suas divagações, também gosta disso, passar bem rápido na frente de vários lugares diferentes nos impede de querer entrar.
- Vocês vão fazer alguma coisa hoje à noite? A Lúcia ligou, esqueci de avisar, é aniversário dela hoje, elas vão naquele bar GLS que agente foi semana passada, sabe? Ele pergunta para mudar de assunto e não ter que responder a pergunta de Rúbia.
- Nossa eu a-do-rei lá, vamos, vamos? A Malu interrompe usando sua voz alta e estridente. Eles não se importam, ela sempre é muito feminina e eles entendem que ela demonstra afetação como que para se lembrar, para se afirmar. É bem chato, mas eles não se importam.
- Você é afim de ir? Rúbia pergunta pra ele, segura a mão da Malu e coloca a outra mão na porta, saindo.
- Acho que eu vou sim ele responde. Ele já desistiu de não ir aonde Rúbia estará, agora ele sabe que pode abrir mão de quase tudo, de tentar, de mudar de idéia, de desapaixonar-se, mas ele ainda não consegue abrir mão da companhia dela, ele ainda pertence aonde ela está. Ele gostaria de não morar com elas, sempre soube que essa história de república com mais do que um sexo era uma furada, sempre soube.
--KJ

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Achados e Perdidos

Me perdi um pouco esses dias, pior que era um pedaço importante saca? Não sei dizer de onde ele caiu, foi um troço qualquer daqui de dentro, mas caso alguém o encontre nem se preocupe, pode ficar...
Tava dormindo demais, acordava, comia e voltava a dormir, até fazia umas coisas entre isso, mas nem vale à pena contar.
Não é que agora esteja melhor, é que agora tem essa lacuna, eu até tinha uma idéia do que colocar no lugar dela, não coube.
--KJ

Platônico

As vezes me pego pensando em você quando acordo, imagino como seria acordar ao seu lado, olhar você ainda dormindo, e beijar sua testa sem te acordar. Depois te esqueço, lembro só bem depois, quando estou no banho somente, me preparando para ir trabalhar ainda, imagino como seria terminar de me arrumar e te encontrar à mesa matutina para lhe dar bom dia, contar meu sonho e saber dos seus, beijar-te novamente e sair de casa.

No caminho, com o som do carro ligado me desligo do engarrafamento, a música que toca faz-me lembrar de ti, e imagino o que esta fazendo em casa, será que esta se arrumando ainda? Qual roupa será que esta, e abre o semáforo. Só bem depois me pego pensando em você, no próximo sinaleiro somente, quando vejo uma loira escultural de 1,80m atravessando a rua, e lembro dos seus negros cabelos, sua estatura baixa, nossa. Depois só lembro de você quando uma senhora atravessa a rua, de cabelos grisalhos, ela tinha brincos iguais aos seus, iguais ao que você estaria usando em uma noitada curitibana comigo.

Chego ao trabalho para mais um dia, pego a pilha de papeis que tenho que analisar, levo até a mesa e ligo o automático até a hora do almoço, vou para a lanchonete perto do trabalho e enquanto peço meu sanduíche favorito um moleque de uns 10 anos pede um sanduíche vegetariano com maionese extra, impossível segurar meus pensamentos, eles me levam para você imediatamente, e imagino como seria bom dividir uma mesa de almoço com você, conversar sobre tudo um pouco e sobre nada, muito, até a hora de voltar ao trabalho.

Termino o restante do expediente como comecei, lembrando como seria chegar em casa e te encontrar carinhosa a me esperar, com um boa noite acolhedor e um beijo sedutor. Pego o meu carro no estacionamento para voltar para casa e nem penso mais em você, mas me pego lembrando de ti quando passo na frente da locadora e vejo um cartaz de uma comédia romântica, daquelas que você gosta de assistir e eu gosto de ver ao seu lado abraçado depois do jantar.

Logo chego em casa para jantar sozinho, assistir o JN sozinho, e nem pensei em você durante o dia, só agora, quando me preparo para dormir, penso em como seria bom pelo menos sonhar com você, pelo menos assim, estaria com você por toda a noite.