sexta-feira, 11 de abril de 2008

Leveza (Um conto sobre procrastinação)

Teria acordado com o despertador e tateando a cabeceira da cama ainda com os olhos fechados acabaria com o barulho. Levantaria para comer algo e se arrumar com um pulo só e no caminho para o trabalho se irritaria com o trânsito e com sua vida enquanto alguém no rádio falaria sobre economia e auto-ajuda.
Faria todo o necessário, era um funcionário pró-ativo, com bom networking, criativo e empreendedor, só não tinha muito tempo. Tudo seria feito para economizar tempo, desde comer num fast-food aonde não teria fila até o gerenciamento de compromissos feito eletronicamente.
Se naquele dia tivesse feito tudo isso, como sempre fazia, então estaria morto. Um avião caiu em cima do escritório da TAM que trabalhava na frente do aeroporto e ele, o funcionário do mês por três meses consecutivos não estava lá. Teria morrido 20 minutos antes de voltar para casa, quase no final do seu expediente.
Mas esse não é o ponto, é só um contraste, alguém tem que morrer para que outros valorizem mais a vida, mas essa tragédia sozinha, teria apenas deprimido nosso personagem, não teria mudado sua vida no que diz respeito ao seu tempo, o que fez com que ele mudasse foi essa tragédia ter acontecido em um dia que ele viu o pôr do sol.

Laranja... Verde... Alguns pingos de chuva no chão.

Uma peça de teatro com essas cenas. “Instantâneos de tempo em tempo” esse era o nome da peça*.

Laranja era o pôr do sol e a garota estava de verde.
As gotas de chuva no chão foram o que a fez a garota pedir para que tudo parasse. Isso na peça. Nesse conto o que fez com que ele pedisse para que tudo parasse foi o pôr do sol.
Agora ele ia atrás da garota de verde... A com os olhos verdes, da cor do vestido assim como na peça. Talvez ela esteja no parque amanhã, no parque do pôr do sol e da chuva.

*Essa peça existe. Vi ela no Festival de Curitiba e adorei cada segundo, é da Companhia Provisória.

domingo, 6 de abril de 2008

Obrigado

Quando um olhar nos devolve a esperança nos tomando de assalto e nos afastando da paz dos desiludidos. Como podemos agradecer?
Como podemos agradecer a essa imagem? Esse vulto em forma de mulher que agora invade os instantes que antes fluíam soltos, livres entre inúmeras tarefas diárias.

Talvez sem atribuir-lhes o peso da existência. Dessa forma esse vulto e esse olhar podem permanecer, até que aos poucos eles percam os detalhes, a intensidade e voltem a fazer parte apenas da lembrança daquelas horas de festa, daqueles minutos de incredulidade e risadas, até que o instante tenha se perdido no todo. Espero que aí então eu a veja de novo, e ainda encontre aquele olhar.

Não direi seu nome, pois prefiro que seja vulto, que seja ainda olhar, direi seu nome apenas quando estiver transformando-se em pessoa para que me lembre que você é mulher e não vulto e então quando conseguir vê-la por inteiro te chamarei e descobrirei até que ponto um olhar pode nos fazer conhecidos.
Descobrindo que aquele olhar era tudo que poderia ter agradecerei por tê-lo visto.
Descobrindo que poderia ter tido mais agradecerei pela nova coragem que um momento de hesitação me trouxe.
Descobrindo uma nova chance... sinceramente... não sei o que faria.


P.S.: Postei Pseudônimo muito cedo e decidimos não adiantar um tema. Esse é um texto antigo que posto hj com a marca off para não passar muito tempo sem postar. Próximo domingo ainda será Procrastinação.