terça-feira, 26 de maio de 2009

Paris (Parte 2 incompleta - Conto Continuado)

“Senhores passageiros, estamos começando o processo de aterrissagem, dentro de 15 minutos estaremos na cidade luz, é meia-noite de 22 de Agosto”. Kilian dormira por todo o vôo, apesar de ter saído pela manhã. Dormiu como se tivesse desligando-se do passado, para poder acordar sem um despertador controlador, sem a rotina conhecida, entretanto, acordou como 14hs atrás, completamente impróprio para ser um ser social.


Ele não estava se importando, passou a mão pelo rosto, como se o estivesse lavando, “arrumou” os cabelos, e acenou com a cabeça para as mulheres ao seu lado, com vergonha de dizer boa noite e revelar seu mau hálito característico de quem dorme por horas a fio e não escova os dentes.


Kilian passa por todo o processo de desembarque característico, pensativo, afinal, não tinha para onde ir, não tinha o que fazer, e ficar no hotel parecia maçante demais. Entretanto, foi para o melhor hotel da cidade, pois sabia que lá poderia comprar algumas roupas e se preparar para a noite, afinal, já dormira demais.


Depois dos preparativos Kilian esta na frente do hotel, esfregando as mãos como se maquinasse um plano infalível, na verdade estava em dúvida para qual lado andar. Decidiu por ir para frente, cruzar uma praça e seguir. Passou por algumas pessoas estranhas, bom, estranhas para o mundinho de Kilian, eram só pessoas com cabelos variados e brincos em mais lugares do que somente em suas orelhas. Ele pensou, e concluiu, que eles saberiam de um lugar para festar, no estilo que ele estava procurando pelo menos.


Abordou um dos homens do grupo, e falando seu francês fluente perguntou onde a noite parisiense poderia estar quente. Obviamente o grupo de jovens olham para Kilian como um alienígena, afinal ele estava vestido como costuma se vestir para sair, social esportivo. Kilian logo nota qual o problema e se apressa em dizer “um lugar que vocês costumem freqüentar”. Uma das mulheres resolve quebrar o silêncio do grupo e lhe da algumas dicas com um sorriso de canto de boca, como se pensasse - “quem é esse louco”.


Kilian agradece, coloca as mãos no bolso e segue a pé para o local mais próximo sugerido, ele já estava cansado de lhe perguntarem seu destino nos taxis, ele não tinha destino, ele tinha o momento para viver, e as pessoas pareciam não se importar em perguntar algo sem resposta.


Kilian chega ao local após uma curta caminhada, “La Vie de La Nuit”. Na fila para entrar no estabelecimento pessoas normais, usando tênis all-star, óculos de grau hipe, peças de roupa diferentes das dele em tantos sentidos que não podem ser descritos, basta dizer, diferentes.


Finalmente chega sua vez de entrar, a porta se abre e o som de música é composto pela seguinte estrofe:

And the sky is full of dreams
But you don’t know how to fly
I don’t have a simple answer
But I know that I could answer
Something better

Uma banda no palco cantando, parecia um show improvisado, unannounced, somente para os afortunados da noite, mas Kilian não os conhece. Na verdade ele não conhece nada além de trabalhar e ficar sozinho. A estrofe pareceu o que ele precisava ouvir e já estava desesperado para saber quem estava cantando, que música era, estava pronto para se tornar o fã n°1 deles. Aproximou-se de uma linda moça, não por escolha, por simples proximidade, e perguntou quem era a banda. A mulher o olhou como se ele estivesse perguntando a coisa mais absurda do mundo, como se não conhecê-los, pelo menos naquele lugar, era crime punível com o escárnio pré-morte, mas mesmo assim respondeu – “The Killers, e a música é This is Your Life” – saindo rapidamente de perto do incauto estranho vestindo social esportivo.


Kilian ainda estava no seu momento FODA-SE, e não ligou nem um pouco para a receptividade da moça, simplesmente estava feliz demais por conhecer a melhor banda do mundo, a única que conhecia é verdade, mas foi direto para o meio das pessoas, dançou, suou, gritou e aproveitou, exauriu-se rápido, mas a primeira vez é sempre assim não é mesmo?

Seattle (Parte 1 - Conto Continuado)

Um segundo após abrir os olhos Kilian sabia que nada seria como antes.

Tudo começou exatamente um ano atrás, quando mais uma vez, dentre tantas outras, Kilian acordou e sabia todos os momentos que o dia lhe guardava. Desligar o despertador ensurdecedor, do barulho mais estridente que ele pôde achar, levantar-se, caminhar pelo quarto em direção ao banheiro enquanto pensa na rotina: trabalho; almoço fast-food, para poupar tempo; trabalho; retornar para casa; jantar sozinho tomando um cerveja morna dada a idade da geladeira e; voltar a dormir. “Deprimente” - pensou ele pela primeira vez em muito tempo.

Kilian chega ao banheiro ainda com os olhos parcialmente fechados, tentando negar a luminosidade da pequena janela do banheiro. Acende logo a luz branca como se pensasse "que tirar o band-aid de uma só vez é melhor do que essa tortura". Respira profundamente, tanto que enrijece por completo suas costas e inclina sua cabeça para traz, termina de abrir os olhos de uma vez e abaixa a cabeça para encarar aquele que lhe faz companhia toda a manhã.

Barba por fazer, mau hálito e cabelo completamente impróprio para ir a um bar e conversar com qualquer mulher, um pouco mais deprimente do que antes. Segundo Kilian, as coisas não poderiam piorar e ele ficou olhando para o espelho por alguns momentos, analisando cada centímetro do que o espelho podia refletir. Algumas marcas na rosto de uma adolescência normal, uma pequena cicatriz próxima ao olho, um troféu adquirido na faculdade, cabelos negros para contrastar com seus olhos cor de mel que, no momento, estavam envoltos em uma esclerótica mais vermelha do que branca. Kilian abaixa a cabeça pensando – “e isto é somente o que o espelho me diz.”

Em sua mente tragédias de uma vida cotidiana. Ele sabia que a realidade diária de todos têm momentos dignos de esquecimento e, que são exatamente estes que nos perseguem por toda a vida, são estes que nos diz quem somos, que criam as amarras da mente, nos deixando presos à mediocridade do sentimento comum do que é certo e errado, bom ou ruim, aqueles que 90% das vezes nos impedem de tentar algo, qualquer coisa. Seguir pelo caminho dos 10% requer a coragem de arriscar ter em sua mente mais uma memória que pode lhe atormentar por toda a eternidade.

Ele começa a pensar, e logo começa uma briga que se dá em sua mente, insuportável, 90% brigando contra 10%, a minoria argumentando com possibilidades e a maioria rebatendo com as conseqüências. A discussão é irritante, até o momento em que ele levanta a cabeça mais uma vez, para encarar nos olhos do gigante, com seus olhos de menino, tentando encontrar a coragem de ganhar a discussão. O menino então da sua cartada final, como um insight, em somente uma palavra: FODA-SE. Um grito desesperado de uma alma atormentada. Levanta os braços até a altura da barriga com um olhar nervoso, irado, FODA-SE, expressou-se em palavras e Kilian sabia exatamente o que queria dizer com isso, o gigante não tinha argumentos, o menino estava certo, pelo menos, para aquele gigante, o menino havia ganhado.

Kilian ri com a decisão, como um menino ri de uma piada velha. Olha mais uma vez para o espelho e pergunta - "Você está realmente certo disso?" Agora não há mais gigantes, agora a turma de crianças esta se reunindo e o sorriso matreiro de canto de boca, com a cabeça um pouco abaixada e um olhar penetrante falava por si só.

Um banho gelado de 5min floreado com pensamentos aleatórios, rápidos, fulminantes, cada seguido por um sonoro e libertador FODA-SE. Escovou os dentes, desarrumou os cabelos, deixou a barba por fazer, pegou as chaves de casa, não, as do carro não, pegou o dinheiro escondido para emergências na gaveta das cuecas, e saiu, saiu rumo ao objetivo do dia, seja qual for o objetivo de um menino querendo ser desbravador do mundo.

No hall a porta do elevador se abre e em sua frente seu companheiro matutino por 32 anos esta lá, mas agora não mais com olhos de gigante. Adentra ao cubículo ainda impaciente, ansioso, pressiona o botão para o térreo e espera em meio a tiques nervosos as portas se abrirem para cumprimentar o porteiro e seguir para a rua. Antes mesmo de abrir as portas da recepção lembra onde está, chuva, torrencial chuva de Seattle, e tenta lembrar o motivo pelo qual foi parar nesta cidade, mas não consegue chegar a nenhuma conclusão.

Vai até a beira da calçada sem um guarda-chuva, mas protegido pelo toldo do prédio, e ergue seu braço pedindo parada a um taxi. Dentro do taxi ouve a pergunta praxe "Para onde?". Kilian pensa por alguns segundos tentando convencer-se de que ainda está certo do que esta fazendo e diz às diretrizes que o levarão ao seu local de trabalho. O taxista é dos quietos, deixou o rapaz com barba por fazer, calças jeans surradas e camisa branca com sobretudo sozinho em seus temerosos pensamentos.

Olhando perdido para o horizonte chuvoso através da janela do carro Kilian esta longe, muito longe de Seattle quando ouve "15 dólares Sr." que são pagos prontamente. Adentra o edifício ao lado dos trabalhadores diários do local, todos engravatados, ternos Gucci, Armani, exatamente como ele deveria estar, mas não hoje. Hoje não chegou em sua mercedez SLR, não deixou as chaves com Titus como fez nos últimos 7 anos.

Irreconhecível, subiu ao 53º andar e foi direto a sala de seu chefe, mente clara como um dia perfeito inexistente em Seattle, em seu subconsciente, memórias de Tyler Durden conversando com o personagem sem nome de Edward Norton no filme que viu na noite anterior.

Passou pela secretária sem nem ao menos olhá-la, nada podia desviá-lo do que estava prestes a fazer, abriu e fechou a maciça porta de madeira de lei e, antes mesmo do “bom dia”, cuspiu palavras, "Senhor, agradeço a oportunidade de trabalhar em tão renomada empresa, mas chegou a hora de seguir meu rumo". Atônito, George olha para o calendário como se procurando saber se era 1º de abril e responde - "Como? Você vai nos deixar em momento tão vital? Você sabe da sua importância nesta empresa, não sabe? Recebeu alguma proposta melhor? Podemos conversar."


A única resposta possível na mente de Kilian saem de seus lábios com tamanha vontade de serem ditas, como se fosse isso que quisesse dizer a vida toda, falou rápido, como se quisesse dizer tudo de uma vez em uma fração de segundos, já conformado por saber que esqueceria de dizer algo. "George, com todo respeito, eu não me importo com a empresa, eu não me importo com você, eu me importo comigo. Eu não quero mais trabalhar aqui, ou em qualquer outro lugar, passar bem", virou-se, saiu, fechou a porta, respirou fundo e agora sorriu para a secretária de George, que sempre achou bonita, caminhou em direção a saída como se fosse campeão do mundo, como se nada o pudesse deter. Agora era somente ele, para ele, com ele, agora e depois. Livre enfim.

Kilian sai do prédio ainda protegido pelo toldo, olha para a rua procurando um taxi, mas não vê nenhum. Decide andar para a esquerda em meio à chuva, poderia ser à direita, foi à esquerda. Cada gota de chuva que ele sentia sobre seu corpo lavava uma parte do seu passado, quanto mais o sobretudo ficava encharcado e pesado, mais Kilian se sentia como o garoto de 12 anos sem preocupações que uma vez foi. Andava pela rua rindo, pensando somente no prazer de um banho de chuva, no final, pelo menos, Seattle foi generosa com ele e lhe poupou horas de consultas psiquiátricas, seu ser estava limpando-se a cada quadra.


Depois de andar a esmo Kilian lembrou-se do motivo de ter começado a andar em primeiro lugar quando avistou a distância um taxi aparentemente disponível. Pediu parada, entrou no taxi para mais uma vez ser inquirido sobre seu destino. Kilian ficou parado, calado, pensando – “e agora?” SNAP, “vamos para o aeroporto”.


Alguns minutos depois, Kilian encharcado chega ao aeroporto, se dirige ao primeiro balcão de companhia aérea que vê e pede uma passagem para o próximo vôo. A atendente parece não ter entendido direito e pergunta – “próximo vôo para aonde”, mas Kilian queria simplesmente a passagem para o próximo vôo, sem se importar para onde. Recebe sua passagem para Paris que sairia em 45min, decide então ir até o free-shop para comprar roupas secas, afinal, algo em torno de 17hs de vôo molhado iria cortar a emoção. Dentro do avião Kilian se acomoda pela primeira vez em muitos anos na classe econômica, a primeira classe ele já conhecia. Apertado, no meio de duas mulheres, Kilian sentia que as coisas na primeira classe não podiam estar tão boas, afinal, lá não estaria tão apertado. Encosta-se em seu assento, olha para o aviso de apertar cintos sobre sua cabeça e sabe que esta viagem será a viagem de sua vida, não esta até Paris, mas a viagem que começou hoje de manhã e, apertar os cintos, parecia a coisa certa a ser feita.

domingo, 24 de maio de 2009

Nem todas são garotas legais. E por isso somos todos gratos

Um dia desses de noite um amigo meu saiu sozinho num desses bares alternativos, um péssimo lugar para encontrar uma garota legal, mas na verdade ele tinha umas duas ou três em mente e não era um encontro, eram só umas garotas que costumavam freqüentar esses bares alternativos.

Dessa vez não rolou, nenhuma apareceu "but why I must care?" Ele pensou com essa bosta dessa mania que tem de ficar fazendo "quotes" em inglês.

Olhar pra porta de tempos em tempos esperando que alguém em específico entre é um dos comportamentos "Lame pra caralho" que se deve evitar quando se sai sozinho e dessa vez, pasmem, não foi isso que ele fez.

Se eu te disser que ele encontrou uma garota estranha-estilosa-gata nova você acredita?
De alguma forma a desse dia se parecia com quase todas as que ele tinha em mente, só que gente fina.
--KJ

Mais Real que a Melodia

Você assistiu o filme "Mais Real que a Ficção"? Então, acho que a minha vida teria o título "Mais Real que a Melodia". Parece que vários compositores mundo afora espionam a minha vida, escrevem uma música e ganham a vida com isso.

Não pode ser coincidência, pode? Confere comigo, e diga se isso não é a minha vida e a de mais ninguém.

(The Frames - Pavement Tune)

This situation's killing me
It's got me right under the thumb
I don't know where I want to be
This doesn't make no sense at all

(Damien Rice - Elephant)

So why d'you have to lie?
I take it I'm your crutch
The pillow in your pillow case
It's easier to touch

(Damien Rice - Rootless Tree)

Fuck you, fuck you, fuck you
And all we've been through
I said leave it, leave it, leave it
There's nothing in you

And did you hate me, hate me, hate me, hate me so good
That you just let me out, let me out, let me out
Of this hell when you're around
Let me out, let me out, let me out
Hell when you're around
Let me out, let me out, let me out

(Editors - The Racing Rats)

Words spill from my drunken mouth
I just can't keep them all in
I keep up with the racing rats
And do my best to win

(Pearl Jam - Black)

And now my bitter hands shake beneath the clouds
Of what was everything?
Oh, the pictures have all been washed in black, tattooed Everything...

(Pearl Jam - Fucking Up)

Lonely drifter on the hill. Why do I?
One must have a heart of steel. Why do I?
It's not how you look but how you feel. Why do I?
You must have a heart of steel. Why do I?
Why do I keep fucking up?

Parece até que estão em seqüência, termino então com o coro da platéia no show do The Frames na musica Revelate

REDEEM YOURSELF
REDEEM YOURSELF
REDEEM YOURSELF