domingo, 11 de maio de 2008

Contos Voluptuários, Parte III (--KJ)


A primeira lembrança que tem do frio é de Campo Grande. Lembrava-se daqueles dias durante sua infância e adolescência quando alguma massa polar conseguia passar pelas planícies, por Campo Grande e por grande parte do centro-oeste. Chamavam isso de “friagem”. Quando acordava nesses dias gostava de ir até o jardim e ficar olhando a grama até que a fina camada de gelo derretesse.

Depois de deixar o apartamento de Rosa foi até um parque a menos de uma quadra de distância e sucumbiu à nostalgia que há alguns dias vinha instalando-se nas sombras dos seus pensamentos. Pensava em sua infância, na sua adolescência e em todas as decisões que deixou de tomar, em todos os sonhos que não sonhou por estar vivendo os sonhos de outras pessoas.

Era incrivelmente bom estar sozinha agora. Nunca gostou de se sentir obrigada a ter alguma postura ou a se comportar de alguma forma, mas sentiu que isso sempre aconteceu. Soube que não iria ver Rosa de novo, caso fizesse isso estaria fugindo apenas do seu casamento e não do seu antigo modo de vida.

Foi para um hotel.

O Dia (Pensamentos de Kilian)

Passa o dia e nada passa, em uma mistura de incertezas e replays a dor não me deixa, o vazio me visita e a solidão me aconchega. De conhecidos bastam meus pensamentos, sempre traiçoeiros, pregando-me peças como uma colega de trabalho, repetindo o bulling diário em pensamentos cada vez mais reais.

Não me escapa o desprezo pelos os olhos que me fitam todo dia ao espelho, o olhar cansado de uma viva não vivida, de um desespero injustificável, de uma dor diária inabalável.

Pensamentos me deixe em paz, és um mal necessário que deveria ser controlável, estais em um carro desgovernado ruma ao precipício, falta-me tudo para contornar a situação, me de idéias e não ilusão. Pare.

Misturas, pare, quero a realidade, quero meus pés ao chão, quero uma vida de peão. Não me tire da estrada da servidão, o precipício me matará enquanto a estrada me salvará, dai-me as rédeas da minha vida, acorde o passageiro, não lhe diga que voará, não há solução na ilusão, quero a servidão.

Um sonho de liberdade, de sanidade, um segundo de servidão, doce ilusão.

Pare.