segunda-feira, 21 de julho de 2008

Poker Face

- Queria experimentar essa nova bebida. Isto é tudo o que fazemos, não é? Olhar para as coisas e experimentar bebidas diferentes – ele disse.
- Acho que sim.

- Quando eu te vi parecia madrugada de ano novo. Você lembra aquele bar?
- Lembro sim. E não era um Bar, era um café.
- E não era ano novo também, eu sei.
- Você acha que isso vai dar certo? Ela perguntou abaixando a cabeça para o lado.
- “Isso” o que? Nós?
- É. Você acha que agente vai dar certo?
- Eu sempre insisto tempo demais em coisas que não dão certo no final. Não sei te dizer.
- Você deveria ter me abraçado e dito: Claro que sim querida! Odeio essa sua mania de responder o que você pensa.
- Você iria saber que estava mentindo.
- Talvez não.
- Mas eu ia.
- Você sempre foi assim?
- Não. Ás vezes eu falava o que as pessoas queriam que eu falasse. Agora ás vezes eu me calo.
- Fica mais fácil conversando com você. Isso de dizer o que eu estou pensando. Nunca consegui saber o que você quer que eu diga. Ele disse ao se levantar para ir ao banheiro
- Sou tão enigmática assim?
- Você não faz idéia. O homem disse ao ir em direção ao banheiro, com um sorriso em seu rosto e a certeza de que sabia o que estava fazendo. Finalmente.

Ele estava ali pela primeira vez, mas ela gostava de lá. Ele ficou por algum tempo dentro do banheiro e ao sair de lá não soube distinguir um olhar não se importando em recebê-lo ou não, retribuí-lo ou não.

- Já sei o que eu quero ele disse ao puxar a cadeira para voltar a se sentar com ela.
- Vou pedir uma long neck.
- Demorou tudo isso para decidir pedir uma cerveja?
- É, achei que queria experimentar algo novo, mas mudei de idéia. Você vai querer comer alguma coisa?
- Não. Ia pedir vodca, mas vou querer uma long neck também.

- Oi – ele disse levantando um pouco seu braço e se dirigindo a garçonete que passava por entre as mesas.
- Queria duas long necks, por favor.

O homem olha para a mulher por alguns segundos e busca por sua carteira de cigarros no bolso. Enquanto abre a carteira e pega um cigarro ele aproveita para conferir suas mãos porque às vezes elas tremem um pouco quando ele está nervoso e agora queria saber se estava nervoso, mas não, não estava tremendo.
- Por que você ficou sem graça?
- Eu? Por quê?
- Você sempre ascende um cigarro quando fica sem graça conversando.
- Você é melhor do que eu nisso. Nisso de ler as pessoas. Talvez tenha sido por isso.
- É. Mas não foi né?
- Não. Ele responde batendo a cinza no chão, apesar do cinzeiro no meio da mesa.
- Bom timing - ele disse para a garçonete que deixa as long necks na mesa e sorri.


- Ás vezes não precisa acontecer nada para eu ficar sem graça sabe. Ás vezes eu só não sei como continuar uma conversa.
- Do que você quer falar? Ela disse sorrindo.
- De coisas simples. Tinha pensado em falar do futuro novamente, em falar pra você ficar comigo e dizer que tudo vai dar certo.
- Mas não vai...
- É. Não vai.
- Eu acho que seria bom sabe? Se agente ficasse juntos – Ela disse.
- Talvez, daqui a alguns anos, agente possa se encontrar. Pensar assim não me faz mal, um pouco.
- Vai passar. Espero que passe pra mim também.
- Vai passar.


--KJ

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