domingo, 4 de maio de 2008

Qualquer noite num Barzin


Por um momento aquela estranha ao seu lado no bar se tornou a única coisa em sua mente. Retornar a sua cidade natal, reencontrar o irmão e alguns de seus mais formidáveis amigos bebendo ao som de boas músicas. Essas foram suas motivações nos últimos meses e agora tudo estava perfeito, assim como imaginou.

O Barzin, lugar descoberto em sua ultima visita a Campo Grande no meio do ano ainda emanava a mesma aura underground, não devido a sua decoração, mas por ter freqüentadores assim. O lugar abrigava diversos tipos de pessoas, de quase todos os rótulos, dos mais divulgados aos mais discriminados e nenhuma destas pessoas demonstrava se importar com a forma que eram vistas fora dali.
Dificilmente uma única tribo seria capaz de manter um lugar assim na cidade, já Curitiba não tinha um lugar assim, era uma cidade mais sectária. A divisão entre as tribos serve muito bem para encontrar pessoas até certo ponto parecidas e é muito útil se você está procurando uma identidade ou já faz parte de um grupo, mas este não é mais o caso. Para Eduardo um lugar que pertença exclusivamente a uma tribo tinha sempre um efeito excludente.

Sempre fez parte de minorias, andando com freaks, nerds, metaleiros... Foi livre assim, mas agora depois de se mudar para Curitiba e viver alguns anos lá freqüentar bares aonde todos eram da mesma tribo era como ser um estrangeiro, sua identidade visual não se ajustava mais tão facilmente quanto em um colégio que exige o uso de uniforme.

Agora Eduardo tinha voltado a ser livre.
Livre para ser como quiser, para ser uma pessoa um pouco diferente de si mesmo a cada dia, assim como os dias que apesar de parecidos carregam consigo sempre algo de novo. E aquela estranha ao seu lado no bar era exatamente assim. O som das suas asas dissonava de tudo que já havia escutado. Seus cabelos negros, curtos e repicados tentavam esconder com franjas seus olhos alegres e deixavam seu belo pescoço à mostra tornando irresistíveis seus lábios expressivos e fluidos.

Nada aconteceu naquela noite - Essa não será uma história de ação ou sobre relacionamentos possíveis, não... Será uma história de amores inventados - As histórias de Eduardo raramente são marcadas por eventos como conhecer uma bela estranha num bar e ficar com ela e isso não era uma novidade para ele e de fato ele ainda demorou algumas horas depois de acordar no dia seguinte até pensar naquela estranha novamente. Tinha visto ela como uma bela mulher em um lugar interessante, mas algo mudara depois de acordar, talvez algum sonho que não se lembre ou talvez o fato de estar sozinho quando acordou. Nunca se consegue saber todos os motivos, mas estava pensando demais em uma estranha, isso tinha que admitir.

De alguma forma podia prever o que iria acontecer em alguns dias. Com certeza algum tempo se passaria e essa estranha ganharia um nome, seus movimentos e olhares se tornariam conhecidos e não menos amedrontadores por isso e então ela passaria várias noites sendo a próxima a entrar pela porta, sendo a desculpa para não procurar alguém novo, ocupando finalmente o posto de amor platônico que estava vago há alguns meses.

Quando finalmente um amor platônico sai do seu mundo é uma sensação estranha, os dias passam inteiros como os segundos logo depois de acordar de uma noite mal dormida.

Agora Eduardo se senta, escrevendo algo no PC e tomando café... Café é bom pra acordar depois de uma noite mal dormida ele pensa.
P.S.:Os personagens dessa história não são ficticios e qualquer semelhança com algo ocorrido não é mera coincidência.

Um comentário:

Anônimo disse...

qualquer semelhança... mera coincidencia...