domingo, 20 de abril de 2008

Contos Voluptuários, Parte I (--KJ) Fuck it !

Não gosto destes brincos.
Era o que estava pensando enquanto dava os últimos retoques em sua maquiagem e vestido branco. Respirou fundo agradecendo por estar sozinha e soube: nada seria como antes.

Demorou ainda para sair do banheiro, alguns segundos ou alguns minutos, não saberia distinguir e não pôde chorar... Estava maquiada.

Todos estavam muito ocupados, decorando os bancos no amplo quintal gramado aonde seria a cerimônia ou levando coisas para a cozinha e foi fácil chegar até a sala de espera aonde tinha deixado suas coisas para pegar sua bolsa com o celular e um sobretudo, deixou as chaves e saiu.

Não sabia mais há quanto tempo estava andando. Lembrava-se de ter pegado uma pequena estrada lateral para sair do caminho descrito nos convites. Andava com o sobretudo fechado e segurava seu celular desligado em um bolso e seu i-pod no outro. Chegou à entrada da vila antes de acabarem as músicas do John Mayer e entrou em um ônibus destinado a Paris ainda a tempo de escutar “Slow dancing in a burning room”.

Lavou seu rosto maquiado no banheiro da rodoviária parisiense com simplicidade e pegou um táxi.
- Para o aeroporto, por favor. Disse com seu francês claro.
- Vai buscar alguém moça? Se ele for chegar num vôo internacional a entrada é diferente, sabe como é...
- Não, eu que estou indo viajar ela completou com um sorriso nos lábios.
- Já despachou as malas então não é? Tem gente que leva uma quantidade de malas que você não acreditaria disse o taxista ainda com seu sotaque irlandês.
- Já sim, tudo que vou precisar já está lá.

Lembrava-se de seu longo namoro que durante um bom tempo foi à distância e em como isso a deu liberdade para ficar sozinha, teria sido horrível ficar sozinha todo aquele tempo e ela não queria estar com ninguém. Lembrava-se do seu noivado na casa dos pais, de como sua vida passou até agora. Lembrava-se de como saiu de Campo Grande pra fazer faculdade em São Paulo, de como deixou São Paulo para trabalhar na França depois que terminou o curso de Moda.

Nunca havia parado para pensar em seu futuro ou sonhado com ele, sempre vivera do agora e aos poucos foi participando dos sonhos de outras pessoas, do sonho de ser filha, amante, amiga. Pensava exatamente nisso durante o caminho até o aeroporto.

Você pode estar se perguntando como alguém que fez universidade, viajou pelo mundo e estava prestes a se casar nunca havia parado para pensar no futuro e nos seus sonhos. Por isso vou te contar como Yasmim viveu até agora, é só um resumo, vai ser rápido.

Ela sempre foi alegre o que a fez extrovertida e autêntica, mudava como a maré e como alguém livre como ela sempre foi pode se prender a um sonho? No momento em que admitisse seus sonhos eles a prenderiam fazendo com que perdesse o que mais prezava; a sua liberdade para ser diferente dela mesma quando o sol voltasse a nascer.

Agora Yasmim ainda não quer dizer qual é seu sonho, mas ela sabe que nesse sonho ela não está casada, não ainda.

- Não ainda, ela diz em português quase inaudível quando fecha a porta do taxi que a deixou na frente do aeroporto.
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Essa foi a minha primeira parte, provavelmente vai demorar um pouco para os personagens se encontrarem, por enquanto vamos construir um cenário e pano de fundo.

O tema da próxima parte será "Egoísmo Necessário"

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