Após horas de conversas e explicações Carlos olhou nos olhos de seu amigo indignado, não com seu amigo, mas com ele mesmo. Carlos estava com raiva, enfurecido, se sentido roubado. Na verdade fora roubado, na verdade, sofreu de estelionato, lhe extirparam o coração ainda pulsante, o viu pulsar nas mãos da diva meliante até o momento do último pulso de seu órgão que mais trabalhou desde que nasceu.
A raiva, entretanto, não residia no fato do roubo, mas do estelionato. O coração ele daria, deu na verdade, mas não para ser esmagado como foi. Infelizmente, olhando para seu amigo, que não precisou dizer se quer uma palavra, ele sabia que não foi esmagado, ele sabia que o culpado era ele, não, o culpado foi sua expectativa, sua imaginação, idealização.
Carlos estava perdido em meio à raiva de ter perdido seu coração, de ter se tornado um ser incompleto, pior, estava com raiva de não conseguir viver sem seu coração, ou pelo menos, tê-lo novamente em seu peito, mesmo que não pulsante por tempo indeterminado.
O silêncio entre os amigos já durava alguns minutos, Carlos vivia a angustiante realidade de ter todas as perguntas certas para se chegar à solução, o problema, O problema, é que ele sabia todas as resposta, ingrata realidade. Carlos estava desejando ser ignorante, perguntar e aprender, mas saber de tudo, de todas as respostas é muito cruel. Saber que seu amigo esta ali somente para ele sentir que pode fazer uma pergunta é seu consolo, doloroso consolo quando não se precisa perguntar.
Carlos, resignado, sem coração, cheio de raiva, detentor de todas as respostas, confuso e impotente frente à situação, conseguiu se sentir ainda pior no momento em que olhou para seu amigo e se sentiu desprotegido, saber que seu amigo não lhe pode dar as respostas que já sabe, foi a gota d’água. Carlos abaixou a cabeça, pensativo como de costume, e sabia a resposta para esta pergunta também, triste realidade. Boa noite meu amigo, obrigado pela companhia. O amigo, triste, sabia, nada mudara.
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